sábado, 21 de janeiro de 2012

1808

Levei muito tempo entre ouvir falar do lançamento do livro “1808” de Laurentino Gomes, em 2007, e finalmente comprar e ler por esses dias de Janeiro de 2012. E este foi meu erro.

Quando a gente fica adiando a leitura, acaba criando expectativas quanto ao livro. Esperando finalmente encontrar o muito que desejo saber sobre esse momento em nossa história, fico idealizando que o autor me presenteie com a mesma riqueza de texto e detalhes que uma vez encontrei em autores como Jacques Soustelle, Michel Chatelet e Suzanne Chantal, quando me contaram histórias de Portugal, do Antigo Egito, da India nos tempos de Jesus e por aí afora, todos trazendo fatos bem colocados, informações sólidas e abundantes, sempre com texto fluente e dinâmico.


Em “1808”, o subtítulo “Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil”, fica só na promessa e não conta esse “Como”.


Comecei a ler embalado e o começo parecia bom, mas o autor não foi feliz na sua empreitada.


Logo notei que, das 368 páginas, 58 vinham com notas e bibliografia. Até postei no facebook do autor que preferia mais de bom texto e menos de pura mania de quem faz tese de mestrado e mesmo trabalhos escolares. Se o texto é bom, me convencerá, Se não é, não adianta invocar a Biblioteca Nacional inteira.


Em “1808” o autor cometeu o uso excessivo de aspas ao transcrever textos de cronistas da época, ao invés de apenas usar estas informações para, na sua própria redação, compor um painel dos usos, costumes e crenças daquele ano no Brasil. Tornaria a leitura mais dinâmica e adequada aos novos leitores. Como ficou, compôs uma colcha de retalhos com muitos fragmentos repetidos, outros fora de contexto e todos muito evidentemente coligidos segundo a idiossincrasia do autor, ficando a impressão de que seu prisma é embaçado por preconceitos e seu ângulo limitado por ideologias, citando apenas o que é de seu particular interesse. A sensação final é a de infidelidade aos fatos históricos.


Talvez tenha tentado popularizar o trabalho ao utilizar elementos da Cultura Pop, mas me pareceu ingênuo e pueril ao comparar uma figura histórica com o Super-Homem e citando algumas vezes – pasmem – o filme de Carla Camurati, Carlota Joaquina, Princesa do Brazil .
Noutras vezes, critica a corrupção e o nepotismo como qualquer jornalista sem pauta faz hoje em dia. Nestes momentos deixa clara sua ideologia e rusticidade, desperdiçando espaço precioso em folhas de papel. Qualquer um sabe que todos os governos da Terra são feitos da mesma péssima matéria prima e quem já conheceu outros reis sabe que são excêntricos, loucos, brilhantes, como Luis XIV, Jorge III, Pedro, O Grande e outros de todos os tipos, muito poucos normais.


A impressão geral após a leitura é de que o autor escreveu cada linha como se fosse realmente um roteiro estendido do filme de Carla Camurati, que é uma obra artística onde todas as licenças são permitidas.


Reforçou preconceitos e consolidou estereótipos, como faria o Casseta&Planeta, com informações que já são do conhecimento de qualquer médio leitor brasileiro.

Procurou o ângulo mais politicamente correto possível do ponto de vista da “intelectualidade” corrente nos dias de hoje.


Quanto a mitigar a sede do leitor por informações, descrevendo os tempos de D. João VI no Brasil, compondo para nós um painel verossímel e fiel, esse livro “1808” é um fracasso.

Será que vou ler o próximo?
 

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