quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Só a Terra Permanece, de George R. Stewart

Sobre o livro de George R. Stewart

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Depois de relacionar este livro entre aqueles que li mais de duas vezes, no post "Quantos Livros você já Leu?", é preciso dar uma idéia dele, justificando ter colocado junto com monstros quase compulsórios.


George Rippey Stewart nasceu em Sewickley, Pensilvânia em 31 de Maio de 1895 e morreu em 22 de Agosto de 1980, formado na Universidade de Princeton, na Universidade da California e na de  Columbia. Foi profissionalmente  um toponimista estado-unidense, escritor e professor de inglês na Universidade de Berkeley, Califórnia, até 1962.

Ele é  conhecido no Brasil pelo seu livro de ficção científica, Earth Abides (Só a Terra Permanece), de 1949. Única obra publicada no Brasil, dentre tantas e tão variadas que publicou.

É uma ficção científica dita "apocalíptica", por descrever o mundo misteriosamente esvaziado de seres humanos por um vírus mortal. Não sei bem o motivo de gostar tanto desse livrinho. Talvez a atitude pacífica e até ingênua do personagem.

Talvez pelo martelo, onipresente metáfora do homem que sobrevive em qualquer circunstância. Gosto de outros livros do gênero "sobreviver", como "Três Homens num Barco", de Jerome K. Jerome.

Com ele, ganhou o primeiro International Fantasy Award em 1951. A ficção foi dramatizada no programa de rádio Escape e inspirou The Stand, obra de Stephen King. O filme com Kevin Costner "O Mensageiro", texto de Bavid Brin copia a situação do livro, inserindo um carteiro.

Continua sendo um dos melhores romances de ficção científica que eu tive o prazer de treler, um clássico da ficção especulativa que, sessenta anos depois de sua primeira publicação, não perdeu nenhum frescor e originalidade.

Depois de um evento devastador, com a extinção da civilização humana devido a um vírus de origem desconhecida, Ish Williams deve encarar o fato de ser possivelmente o último ser humano no planeta Terra. Vagando pelos EUA, será confrontado com os dilemas e situações que um homem comum poderia enfrentar. Escrito em 1950, não contém nenhum detalhe que possa datar a obra. Durante as três partes do livro, que coincidem com as três idades do personagem (juventude, maturidade e velhice), Ish será testemunha, ator e lenda viva neste novo mundo que é forjado a partir da destruição da civilização.

Embora o romance seja altamente viciante e seja narrado de forma eficaz com grande lirismo e uma surpreendente capacidade de descrever, não há nenhum enredo real. Muitas vezes, os capítulos são apenas coisas que acontecem, os eventos estão lentamente moldando um novo mundo e o homem é apenas um elemento que precisa se adaptar a um ambiente que não pode mais domar.

George R. Stewart foi o autor de vários livros sobre geografia e costumes dos Estados Unidos e torna este romance um louvor à natureza, ao ambientalismo, à imensidão da vida e à piada que é o homem no meio da Terra. Pois "Os homens vêm e vão, mas a terra permanece".  É um grito de humildade humana, a reflexão sobre felicidade, simplicidade e civilização. Realmente, esta novela merece um artigo de maior comprimento, pois embora seja divertido de ler, a profundidade dos temas abordados convida à reflexão e conscientização.

Possivelmente, um dos grandes sucessos deste romance é poder ser lido em diferentes níveis: desde a simples história de sobrevivência em um mundo em ruínas até os sentimentos profundos que este romance ecológico desperta no leitor.

Só posso recomendar ler e apreciar um grande romance de ficção científica, este velho gènero tantas vezes ultrapassado e tantas outras vezes profético.  É um grande romance e, portanto, vale a pena ler.

Foi seu livro Storm, de 1941, destacando-se como protagonista uma tempestade no Oceano Pacífico chamada "Maria", que levou ao Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos a usar nomes de pessoas para designar tempestades e inspirou Alan Jay Lerner e Frederick Loewe a escrever a música "They Call the Wind Maria" para o músical Paint Your Yagon, em 1951.

George R. Stewart foi um membro fundador da American Name Society em 1956-1957 e ele serviu, uma vez, como testemunha chave numa tentativa de assassinato de um especialista em nomes familiares. Seus trabalhos acadêmicos sobre a poesia métrica das baladas (publicada sob o nome de George R. Stewart Jr.), começando com sua dissertação em Ph.D., em 1922, na Universidade de Columbia, continua importante em sua área.

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RELAÇÃO DE SUAS OBRAS

* Earth Abides

* Ordeal by Hunger

* Names on the Land: A Historical Account of Place-Naming in the United…

* Pickett's Charge

* Storm

* The Pioneers Go West (Landmark Books)

* Fire

* To California by Covered Wagon

* American place-names; a concise and selective dictionary for the…

* American Given Names: Their Origin and History in the Context of the…

* The California Trail: An Epic with Many Heroes

* Names on the Globe

* Committee of Vigilance; Revolution in San Francisco, 1851, an Account of…

* American ways of life

* U.S. 40 Cross Section Of The United States of America

* Donner Pass and Those Who Crossed It The story of the country made notable…

* N.A. 1: The North-South Continental Highway

* Man. An Autobiography

* The year of the oath; the fight for academic freedom at the University of…

* Take Your Bible in One Hand: The Life of William Henry Thomes

* Doctor's oral

* The Years of the City

* Good lives

* East of the Giants

* John Phoenix, esq., the veritable Squibob a life of Captain George H.…

* Bret Harte: Argonaut and Exile

* Leben ohne Ende : Science Fiction-Roman

* Notes on R. O. Bolt,: A man for all seasons; (Notes on chosen English…

* The Parent's Success Guide to Baby Names For Dummies (Lifestyles…

* Im Schatten der goldenen Berge

* A bibliography of the writings of Bret Harte in the magazines and…

* Not So Rich As You Think

Estudando nomes, escrevendo livros de história, biografias, romances e  ficção científica, além de poesia e muitos trabalhos acadêmicos, tem muito mais a dizer do que apenas um livro publicado em lingua portuguesa.

A própria estória dessa publicação é heróica. Foi publicado pela EDIÇÕES GRD, do visionário empreendedor editor Gumercindo Rocha Dorea. Ele iniciou o "Clube GRD de Ficção Científica" com esse livro. A Ficção Científica GRD se tornou a mais importante coleção de FC da sua época, e talvez de todos os tempos, no Brasil. Publicou pela primeira vez aqui nomes de peso como C. S. Lewis, Robert A. Heinlein, James Blish, John Wyndham, Chad Oliver, Ievguêni Zamiátin - e em coleções paralelas, as Edições GRD de Dorea franquearam aos leitores brasileiros também Ray Bradbury, H. P. Lovecraft, Walter M. Miller, Jr., Fredric Brown, entre outros. Li todos.

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combinar/separar obras?

domingo, 25 de outubro de 2009

Quantos Livros Você já Leu?

Uma pergunta vasta: Quantos livros você já leu em sua vida?
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Vamos estabelecer alguns critérios para responder com alguma exatidão.
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Não importa a qualidade da leitura. Pode ser aquela leitura rápida sem maior ambição do que simplesmente divertir e passar o tempo. Pode incluir as meias leituras, aquelas onde você não conseguiu concluir por mais que tentasse terminar o livro, mesmo indo contra seus princípios de nunca recuar diante de uma dificuldade dessa natureza. É permitido incluir a leitura de livros impingidos na escola e livros técnicos necessários ao exercício de sua profissão. É aceitável incluir qualquer livro, mesmo aqueles que você se envergonhou de ter lido e nem às paredes confessa que gostou, pois a pergunta não é QUAIS livros você já leu, apenas quantos. Combinemos excluir apenas um Livro, a Bíblia.

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Para algumas pessoas, a resposta é precisa e imediata, infelizmente. Leram tão poucos livros que lembram de cada um deles com detalhes tipo: a idade que tinham quando leram, a casa onde moravam, se leram na cama ou na poltrona ou no banheiro.

Conheci um sujeito que dizia ter lido UM livro. Leu apenas por obrigação na escola básica, mas inflava o peito e dizia "eu li a moreninha", obrigando o interlocutor a se esforçar para disfarçar expressão de assombro e incredulidade. Descascando bem o ser humano, para conhecer seu interior, descobri mais tarde que leu também outros livros de contabilidade e então perguntei qual o motivo de não incluir mais esses em sua conta e ele me respondeu que esses... não eram bem livros... só estudo. Parece resposta razoável, pelo menos nesse caso.
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A maioria das pessoas lerão de 20 a 50 livros durante a vida inteira.  Para esses, a leitura é uma atividade dolorosa, desenvolvida com muita relutância. Começam por alguma imposição da escola ou do trabalho e, quase sempre, por força de um modismo ou pela necessidade de reunir atributos semelhantes aos do grupo de seus amigos e assim participar das conversas. O ato de ler é penoso, com a leitura de umas poucas folhas por dia e sempre de olho na numeração das páginas para constatar quantas já leu e quantas ainda faltam para finalmente concluir. Raramente lerão livros muito grandes, pois a simples visão de um livrão promete que a empreitada vai ser dura.
Esse tipo de leitor sempre sabe com certeza QUANTOS e QUAIS foram os livros que já leu e, por mais incrível que pareça, lembram até do que estava escrito neles, pois leram devagar e com atenção. Em resumo, não souberam curtir.

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Quem não pode ficar sem algum livro para ler e, quando esta lendo, avalia com tristeza que o livro já está na metade ou mesmo quase acabando, nunca vai poder responder à pergunta inicial. Sequer com uma margem razoável de erro. Nem mesmo pela média mensal de livros lidos desde que aprendeu a ler, pois há fase de ler dez e fase de ler três e outras de ler nenhum. Muito menos pelos livros em sua estante, pois sabe deus quantos leu por empréstimo, quantos sumiram ou foram emprestados e quantos não sobreviveram. Nem pensar em enumerar mesmo por cima todos os livros, serão semanas só pensando nisso.

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Uma outra pergunta bem mais fácil teria que ser feita:
Quantos Livros Você já Releu?

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Jorge Luis Borges diz que o que importa é a releitura, é onde está a verdadeira leitura. Talvez, para ele, a primeira é a hora do assombro com a novidade e do maravilhamento com o superlativo. Na seguinte, é o momento do detalhe requintado, do prolongamento do prazer que já não se preocupa com o desdobramento da trama e a conclusão dos mistérios.
Uma coisa é certa, a pessoa que relê nunca é a mesma pessoa que um dia leu e pode estar interessada em outros aspectos da obra que passaram despercebidos na primeira ou na segunda vez.
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Essa pergunta é mais fácil. Pode ser: nenhum e tantos. Para facilitar ainda mais, pode responder com grande margem de acerto, tipo "li uns dez" ou, "li ins cinqüenta", pois, na esmagadora maioria dos casos, você tem esses livros junto de você e poderia agora mesmo ir pegar todos eles e provar que releu e, pior, tentar me convencer a ler também todos eles e, se eu já li alguns, comentar cada um deles muito satisfeito por encontrar uma verdadeira alma gêmea.
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Agora, quer uma pergunta realmente fácil?
Uma pergunta que pode ser respondida de pronto e com absoluta exatidão, sem nenhuma margem de erro:

QUANTOS LIVROS VOCÊ JÁ TRELEU?


Quantos e quais foram os livros que você já leu três ou mais vêzes? Uma meia dúzia, no máximo dez? Quantos se identificaram tanto com você? Quais são esses livros de infinitas novidades e inesgotáveis informações cujas leituras, por mais pormenorizadas e atentas, jamais serão satisfatórias?
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Contudo, o importante talvez não seja quantos livros já li,
mas sim o outro tanto que pretendo ler ainda ler.



Vou denunciar alguns que já treli.
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O Leopardo, de Giuseppe Tomaso de Lampedusa.


Meu Encontro com Marx e Freud, de Erich Fromm.


Só a Terra Permanece, de George R. Stewart.






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Ulisses, de James Joyce.
Retrato do Artista Quando Jovem, de James Joyce.


Eros e Civilização, de Herbert Marcuse.


segunda-feira, 20 de julho de 2009

Morte em Veneza, de Thomas Mann


Encantado pela possibilidade de ter deixado passar uma porção de livros, clássicos da literatura universal, depois de ter lido "O Leopardo", iniciei a leitura de "Morte em Veneza" de Thomas Mann. Livrinho pequeno, aparentemente despretencioso e respaldado na efusiva aprovação de qualquer intelectual que se preze.
Lamento informar de minha decepção.
A edição é da Abril Cutural, de 1979, na direção de Victor Civita. Apesar de popular, é bem cuidada, com alguns erros de edição. Tendo gostado da edição para "Ulisses" de James Joyce, sempre considerei como boas as edições da Abril, mas essa em minhas mãos é sofrível.
Primeiro, pela péssima tradução de Maria Deling. O texto parece ter sido traduzido do espanhol e não diretamente do alemão. A pontuação é excessiva, muitas vezes desnecessária e confusa. Os tempos verbais mudam no meio da frase. A escolha de sucedâneos portugueses é estranha, parecendo que são muitos escritores num mesmo parágrafo.
Alguém devia fazer uma tradução que se preze desse autor.
O tema é espinhoso, podendo ser reduzido aos sentimentos de paixão de um homem à beira da velhice por um menino. Seria homosexual se não ficasse no plano espiritual, como se isso fosse desculpa para as violentas paixões enrustidas que o personagem vive. O meio ambiente construído pelo autor é de decadência, beirando o fantástico nas situações conspiratórias que o destino organiza.
Mas fica nisso.
Fiquei até com saudade de ler J. G. Ballard, conhecido pelo filme "Império do Sol" (é ele o menino no campo de concentração japonês), mas com outros contos e romances em ambientes pós-apocalipticos, devastados, decadentes, úmidos e quentes.
Continuo querendo um bom livro para ler.

terça-feira, 16 de junho de 2009

O Olhar do Leopardo


Dom Fabrizio é um homem singular. Nascido nobre de longa linhagem, conquistou vasta cultura, mesma para os padrões dos nobres seus contemporâneos. Conhecia os grandes autores da literatura em suas línguas originais, percorreu o mundo civilizado e especializou-se em astronomia. Capaz de meditações originais e análises em perspectiva, sabia avaliar o mundo à sua volta com lucidez.

No pequeno romance, demonstra diversas vezes esse olhar crítico que conflita com preconceitos e preceitos que até hoje, com toda nossa urbanidade e americanização, só recrudesceram. Como quando admite para si mesmo que seu filho natural é limitado, até estúpido, quando comparado ao seu sobrinho Tancredi. Ou quando lamenta que o poder dos senhores feudais de seu tempo não lhe permitam certos prazeres. E em outras ocasiões, sempre tocando onde mais dói sem nenhuma piedade, principalmente consigo mesmo.

Esse tipo de consciência sempre me perseguiu. Daí me identificar tanto com o livro.

Outro autor que me apontou esse problema de caráter, foi Umberto Eco, num livrinho “Viagem na Irrealidade Cotidiana”, uma coletânea de artigos e crônicas analisando sem perdão as atualidades de Comunicação e a estupidez humana. Aliás, foi uma citação ligeira do Eco, num sofrível livro seu "A Mágica Chama da Rainha Loana" que me fez comprar "O Leopardo". Num certo trecho do livro "Viagem...", conta da sensação de irrealidade que o invade quando se defronta com certas situações cotidianas. Como se pergunta o significado de certos gestos, costumes, usos e atitudes, até se perguntar como a humanidade pode chegar nesse ponto. Qual o objetivo e o significado?

Todo dia, acontece alguma coisa que desperta essa sensação. Ou um monte de coisas. Depende do dia. Por exemplo, o que é uma gravata além de um pano estúpido que você pendura no pescoço, que um dia serviu para fazer escorregar a cinza de charuto enquanto a homarada se reunia para conversações? Qual a razão de existência de um instituto de metereologia que diz que só vai chover dali a três dias e naquela madrugada você acorda assustado com trovões, pois não ia chover, sofrendo todo o dia seguinte com água que cai à vontade? E olha que o sujeito que estudou, dispõe de satélites, estações, computadores, estatísticas e pessoal com largos recursos financeiros, foi categórico e até soberbo em seu prognóstico. Quem já acordou azedo e se perguntou para que serve arte, essa coisa estúpida, quase sempre sem sentido, sabe do que estou falando. Quem um dia concluiu que só se enrolou na vida, com mulheres, filhos, amigos e trabalho que não tem nada a ver consigo, entende. Outras mil perguntas, tipo: como um motor de automóvel fabricado ontem ainda é primitivo, sujo, frágil e ineficiente. Perguntas universais, tipo: para que serve afinal um vereador, deputado ou senador?

Assim vai, até todo dia se perguntar, depois de olhar em torno, para seus rituais diários, seu trabalho antes tão excitante e hoje insuportavelmente maçante, para uma embalagem de papelão que cobre um invólucro plástico que acomoda um papel alumínio, para toda a inacreditável reunião de tolices à sua volta:
O que é que eu estou fazendo aqui?

sábado, 30 de maio de 2009

Uma patada amigável do Leopardo


Um trecho instigante, inteligente, que lanço como desafio: leia e , olhando num espelho de perfeita reflexão, pense de verdade.
"...tratava-se, porém, de um sentimento nascido daquela compaixão que inspira todo homem que, em novo, se julga destinado à arte, mas que, em velho, consciente de não possuir talento, continua exercendo a mesma atividade em níveis mais baixos, guardando no bolso seus sonhos murchos..."

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Novos Senhores Feudais


Se usasse outro título, erraria completamente, pois se tiivesse usado aquele pensado "Os Novos Leopardos" teria cometido injustiça e revelado suprema ignorância sobre o personagem. Esses senhores feudais modernos são arremedos patéticos sem qualquer traço de nobreza, que mesmo o Leopardo já desprezava antes mesmo de conhecer.

Criados pela escolha eleitoral (escolha?), compõem classe a parte repleta de privilégios e poderes que sabem usar em proveito próprio e dos seus. Assim é a classe política e cada um de nós conhece a história de alguns deles.

Famílias conhecidas aqui no Paraná, por exemplo, começaram por volta de 1800, quando amealharam terras por algum serviço prestado ao império ou à incipiente república. Primeiro exploraram os recursos naturais mais à mão, como madeira e ouro, depois utilizaram a mão de obra escrava para explorar a terra, justificando essa "dívida social" que hoje imputam a todos nós. Formaram filhos que foram agraciados com cartórios e posições no judiciário e no executivo, sempre servindo ao poder pelo poder. Hoje transformam a venda de suas terras valorizadas em mandatos que financiam campanhas e garantem mais propriedades financiadas pela corrupção e escambo de vantagens que asseguram a continuação dos mandatos em todos os níveis do legislativo. Assim o maduro deputado é filho do velho senador e pai do promissor vereador, tudo bem arranjado nos feudos geográficos e nos currais eletrônicos.

Podem ser enumerados aos milhares, pois não escondem as relações e não negam as dinastias, orgulhando-se, até, da nobreza de que se julgam portadores. Assim, nossa atual geração é vassala dos que aí estão mandatários. como nossos pais foram vassalos dos pais deles e nossos filhos estão fadados a servir a seus filhos.

Tudo bem disfarçado, é claro, na ilusória "escolha" pelo voto.

Reflito na qualidade desses novos senhores, mais parecidos com gordas ratazanas do que com nobres felinos,sendo obrigado a discordar da frase mais porreta do livro "se quisermos que tudo fique como está. é preciso que tudo mude", pois as transformações trazidas pela democracia e pela república fez tudo degenerar.

A sucessão clara e natural, foi substituída pela obscura ascensão do mais ganancioso. O nobreza adquirida e cultivada foi transformada em ideologia vazia. O mérito inerente deu lugar ao oportunismo. Tudo mudou e nada mais foi o mesmo.
Gostar do livro, leva a entende-lo. Começo a entender quando me torno capaz de discordar.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Identificação


Quando trabalhei na função de arte–educador do Museu Metropolitano de Arte, da Fundação Cultural de Curitiba, isso lá por 1996, aprendi como olhar uma obra de arte. Seja a partir da divisão da tela em formas geométricas, ou pela definição de como a luz entra e se espalha pelas figuras, ou pela distribuição do claro-escuro, para entender uma obra formalmente. Contudo, havia momentos em que uma obra qualquer mesmerizava irresistivelmente a atenção. Sem motivo aparente, sem ao menos conter algum detalhe extraordinário que justificasse a atração.

Algumas, como o detalhe das mãos de uma colhedora de chá numa foto do Sebastião Salgado, ou uma árvore solitária resistindo num campo queimado, registrado por Franz Kracjberg, ou uma gravura de Artur Luiz chamada “Fruit Defendu”, ou um parquinho de Djanira, cada uma parecia falar diretamente comigo, identificando-se de imediato, sem usar nenhuma técnica de distanciar com os olhos semicerrados ou de contestualizar tempo e espaço, apenas se identificava claramente.

Com “O Leopardo”, acontece a todo momento. O tom quase de conversa do livro, com começo, pausa para explicar, recomeço e continuação da frase, por exemplo, cria intimidade com o leitor. Os sentimentos e pensamentos do personagem são simples e francos. Sempre sabemos o que realmente sente e o que é obrigado a aparentar, pois é homem culto numa função pueril de pai, senhor feudal e estereótipo de uma época.

Nada se compara a estar lendo e de repente saber exatamente como é acordar com aquele azedume que é sensação de irrealidade diante da estupidez de certos gestos e rituais cotidianos. Deparar-se com uma frase que exprime todo um sistema e todo um sentido é dialogar com a obra.

Às vezes, acho que esse livro caiu em minhas mãos na época certa, quando atingi a necessária maturidade para fruir por imediata identificação essa excelente obra de arte, esses objetos do engenho humano que facilmente se universalizam, pois contém elementos universais comuns a todos os seres humanos.

Só de uma experiência sinto falta, de beber um bom vinho Marsala.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Razões para ler esse livro.

Vídeo do Ler+, com um resumo padrão e trechos do filme.
http://www.youtube.com/watch?v=mDGnrAd8_Es

Para continuar igual


Buscando informações para "O Leopardo", surgem muitas referências para a frase "É preciso que tudo mude, para tudo continuar como está". É atribuída ao príncipe Dom Fabrízio na versão para cinema que não assisti, mas na verdade é de Tancredi, pupilo do príncipe, que com ela justifica sua partida para lutar ao lado dos rebeldes garibaldinos.
A frase é boa, lapidar e tudo mais, mas prefiro outras, como aquela resultante das meditações iniciais de Dom Fabrízio ao olhar as fogueiras dos rebeldes e os mosteiros em torno de Palermo: "...fanáticos, solitários como eles; como eles, ávidos de poder, isto é, como sempre, ávidos de ociosidade."
Afinal, o que sempre buscam todas as pessoas, fortuna e poder para ficar sem fazer nada, só usufruindo.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

A Primeira Impressão

A primeira foi que precisava reaprender a ler.
Acostumado estava em ler calhamaços de mil páginas, livros em série que ocupam cinquenta centímetros de prateleira e mesmo boas idéias super-aproveitadas. Todos eles, livros feitos em computador. O cara é o pink floyd das letras, também ganha por hora, então escreve sem pressa de acabar, sem preguiça de corrigir, numa verborragia interminável que não desperdiça nenhuma pequena idéia e não descuida nenhum pequeno detalhe.
Acho que todo escritor devia trabalhar em máquina de escrever. Seria mais direto e parcimonioso.
Assim, me descobri meio analfabeto, desaprendido de ler uma palavra de cada vez.
"Pare, leia devagar, olhe as pontuações. É livro cheio de detalhes. Ou quer ficar imaginando que Bendicó é um vira lata preto e não um fila enorme, por ter passado sem ver a pequena frase?"
É... Fazia tempo que não pegava um livro tão denso.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O Leopardo, por Giuseppe Tomasi, Príncipe de Lampedusa


Durante muitos anos, fui perseguido por esse livro. Estava sempre numa prateleira de sebo, em muitas edições populares de bolso, em outras de luxo. Nunca tive o impulso de ler. Achava que tinha alguma coisa de rançosa, antiga, ultrapassada. Até achei pequeno demais para conter alguma coisa interessante. Assim fui lendo muitas outras coisas.
Sem motivo aparente, talvez levado por uma menção de Umberto Eco, comprei uma edição do Clube do livro. Foi começar e me perguntar como pude viver todos esses anos sem ter lido esse livro.
Nas primeiras páginas, já pensava em medir os outros livros por ele. Por exemplo, quantos do Thomas Pynchon para fazer um O Leopardo? Todos. Uns tres melhores do Saramago para fazer um O Leopardo? Qual outro livro que, sózinho, competiria com O Leopardo? E olha que gosto muito de todos com os quais comparei.
Reação ardorosa de fã.
Agora que fiz a primeira leitura, pois haverá outras, entendo que esperei sem querer para atingir uma mínima maturidade e apreciar mais profundamente.