sábado, 30 de maio de 2009

Uma patada amigável do Leopardo


Um trecho instigante, inteligente, que lanço como desafio: leia e , olhando num espelho de perfeita reflexão, pense de verdade.
"...tratava-se, porém, de um sentimento nascido daquela compaixão que inspira todo homem que, em novo, se julga destinado à arte, mas que, em velho, consciente de não possuir talento, continua exercendo a mesma atividade em níveis mais baixos, guardando no bolso seus sonhos murchos..."

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Novos Senhores Feudais


Se usasse outro título, erraria completamente, pois se tiivesse usado aquele pensado "Os Novos Leopardos" teria cometido injustiça e revelado suprema ignorância sobre o personagem. Esses senhores feudais modernos são arremedos patéticos sem qualquer traço de nobreza, que mesmo o Leopardo já desprezava antes mesmo de conhecer.

Criados pela escolha eleitoral (escolha?), compõem classe a parte repleta de privilégios e poderes que sabem usar em proveito próprio e dos seus. Assim é a classe política e cada um de nós conhece a história de alguns deles.

Famílias conhecidas aqui no Paraná, por exemplo, começaram por volta de 1800, quando amealharam terras por algum serviço prestado ao império ou à incipiente república. Primeiro exploraram os recursos naturais mais à mão, como madeira e ouro, depois utilizaram a mão de obra escrava para explorar a terra, justificando essa "dívida social" que hoje imputam a todos nós. Formaram filhos que foram agraciados com cartórios e posições no judiciário e no executivo, sempre servindo ao poder pelo poder. Hoje transformam a venda de suas terras valorizadas em mandatos que financiam campanhas e garantem mais propriedades financiadas pela corrupção e escambo de vantagens que asseguram a continuação dos mandatos em todos os níveis do legislativo. Assim o maduro deputado é filho do velho senador e pai do promissor vereador, tudo bem arranjado nos feudos geográficos e nos currais eletrônicos.

Podem ser enumerados aos milhares, pois não escondem as relações e não negam as dinastias, orgulhando-se, até, da nobreza de que se julgam portadores. Assim, nossa atual geração é vassala dos que aí estão mandatários. como nossos pais foram vassalos dos pais deles e nossos filhos estão fadados a servir a seus filhos.

Tudo bem disfarçado, é claro, na ilusória "escolha" pelo voto.

Reflito na qualidade desses novos senhores, mais parecidos com gordas ratazanas do que com nobres felinos,sendo obrigado a discordar da frase mais porreta do livro "se quisermos que tudo fique como está. é preciso que tudo mude", pois as transformações trazidas pela democracia e pela república fez tudo degenerar.

A sucessão clara e natural, foi substituída pela obscura ascensão do mais ganancioso. O nobreza adquirida e cultivada foi transformada em ideologia vazia. O mérito inerente deu lugar ao oportunismo. Tudo mudou e nada mais foi o mesmo.
Gostar do livro, leva a entende-lo. Começo a entender quando me torno capaz de discordar.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Identificação


Quando trabalhei na função de arte–educador do Museu Metropolitano de Arte, da Fundação Cultural de Curitiba, isso lá por 1996, aprendi como olhar uma obra de arte. Seja a partir da divisão da tela em formas geométricas, ou pela definição de como a luz entra e se espalha pelas figuras, ou pela distribuição do claro-escuro, para entender uma obra formalmente. Contudo, havia momentos em que uma obra qualquer mesmerizava irresistivelmente a atenção. Sem motivo aparente, sem ao menos conter algum detalhe extraordinário que justificasse a atração.

Algumas, como o detalhe das mãos de uma colhedora de chá numa foto do Sebastião Salgado, ou uma árvore solitária resistindo num campo queimado, registrado por Franz Kracjberg, ou uma gravura de Artur Luiz chamada “Fruit Defendu”, ou um parquinho de Djanira, cada uma parecia falar diretamente comigo, identificando-se de imediato, sem usar nenhuma técnica de distanciar com os olhos semicerrados ou de contestualizar tempo e espaço, apenas se identificava claramente.

Com “O Leopardo”, acontece a todo momento. O tom quase de conversa do livro, com começo, pausa para explicar, recomeço e continuação da frase, por exemplo, cria intimidade com o leitor. Os sentimentos e pensamentos do personagem são simples e francos. Sempre sabemos o que realmente sente e o que é obrigado a aparentar, pois é homem culto numa função pueril de pai, senhor feudal e estereótipo de uma época.

Nada se compara a estar lendo e de repente saber exatamente como é acordar com aquele azedume que é sensação de irrealidade diante da estupidez de certos gestos e rituais cotidianos. Deparar-se com uma frase que exprime todo um sistema e todo um sentido é dialogar com a obra.

Às vezes, acho que esse livro caiu em minhas mãos na época certa, quando atingi a necessária maturidade para fruir por imediata identificação essa excelente obra de arte, esses objetos do engenho humano que facilmente se universalizam, pois contém elementos universais comuns a todos os seres humanos.

Só de uma experiência sinto falta, de beber um bom vinho Marsala.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Razões para ler esse livro.

Vídeo do Ler+, com um resumo padrão e trechos do filme.
http://www.youtube.com/watch?v=mDGnrAd8_Es

Para continuar igual


Buscando informações para "O Leopardo", surgem muitas referências para a frase "É preciso que tudo mude, para tudo continuar como está". É atribuída ao príncipe Dom Fabrízio na versão para cinema que não assisti, mas na verdade é de Tancredi, pupilo do príncipe, que com ela justifica sua partida para lutar ao lado dos rebeldes garibaldinos.
A frase é boa, lapidar e tudo mais, mas prefiro outras, como aquela resultante das meditações iniciais de Dom Fabrízio ao olhar as fogueiras dos rebeldes e os mosteiros em torno de Palermo: "...fanáticos, solitários como eles; como eles, ávidos de poder, isto é, como sempre, ávidos de ociosidade."
Afinal, o que sempre buscam todas as pessoas, fortuna e poder para ficar sem fazer nada, só usufruindo.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

A Primeira Impressão

A primeira foi que precisava reaprender a ler.
Acostumado estava em ler calhamaços de mil páginas, livros em série que ocupam cinquenta centímetros de prateleira e mesmo boas idéias super-aproveitadas. Todos eles, livros feitos em computador. O cara é o pink floyd das letras, também ganha por hora, então escreve sem pressa de acabar, sem preguiça de corrigir, numa verborragia interminável que não desperdiça nenhuma pequena idéia e não descuida nenhum pequeno detalhe.
Acho que todo escritor devia trabalhar em máquina de escrever. Seria mais direto e parcimonioso.
Assim, me descobri meio analfabeto, desaprendido de ler uma palavra de cada vez.
"Pare, leia devagar, olhe as pontuações. É livro cheio de detalhes. Ou quer ficar imaginando que Bendicó é um vira lata preto e não um fila enorme, por ter passado sem ver a pequena frase?"
É... Fazia tempo que não pegava um livro tão denso.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O Leopardo, por Giuseppe Tomasi, Príncipe de Lampedusa


Durante muitos anos, fui perseguido por esse livro. Estava sempre numa prateleira de sebo, em muitas edições populares de bolso, em outras de luxo. Nunca tive o impulso de ler. Achava que tinha alguma coisa de rançosa, antiga, ultrapassada. Até achei pequeno demais para conter alguma coisa interessante. Assim fui lendo muitas outras coisas.
Sem motivo aparente, talvez levado por uma menção de Umberto Eco, comprei uma edição do Clube do livro. Foi começar e me perguntar como pude viver todos esses anos sem ter lido esse livro.
Nas primeiras páginas, já pensava em medir os outros livros por ele. Por exemplo, quantos do Thomas Pynchon para fazer um O Leopardo? Todos. Uns tres melhores do Saramago para fazer um O Leopardo? Qual outro livro que, sózinho, competiria com O Leopardo? E olha que gosto muito de todos com os quais comparei.
Reação ardorosa de fã.
Agora que fiz a primeira leitura, pois haverá outras, entendo que esperei sem querer para atingir uma mínima maturidade e apreciar mais profundamente.